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sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Marina provoca debandada no PSB


Coordenador da campanha entrega o cargo, critica a candidata do partido e diz que ela está longe de representar o legado de Eduardo Campos. Cúpula da legenda tenta apagar a crise no relacionamento com a Rede
 A crise na campanha presidencial de Marina Silva cresce na mesma proporção das justificativas dadas por dirigentes do PSB e da Rede de que tudo está dentro da normalidade. O coordenador-geral da campanha, Carlos Siqueira, personagem central na história do PSB, entregou ontem o cargo, disse para Marina "mandar na Rede dela" e acrescentou que ela está muito longe de representar o legado de Eduardo Campos. "Eu sei o que ele sofreu para manter essa coalizão." A debandada não para por aí: Milton Coelho, do comitê de mobilização, deixou a campanha. Responsável pela arrecadação, Henrique Costa pensa em retornar a suas atividades profissionais. E o marqueteiro Diego Brandy só permaneceu após receber o aval de pessoas próximas a Campos.

O sentimento de Siqueira permeia parte dos integrantes do PSB, embora a cúpula do partido tente reverter a crise. O ex-coordenador-geral da campanha é um nome histórico dos socialistas, foi secretário de governo de Miguel Arraes, conhecia Eduardo desde pequeno. Depositou nele as esperanças de ver o PSB chegar ao Planalto, senão agora, que fosse em 2018. Marina, nesse contexto, não representa a história que ele imaginava ser escrita.

A falta de habilidade da nova candidata também atrapalhou e antecipou a saída dos coordenadores. Na quinta-feira passada, um dia depois do acidente que matou Eduardo Campos, Marina já dizia, internamente, que a coordenação de campanha apresentava falhas e que era preciso encontrar caminhos para subir nas pesquisas de intenção de voto. A tensão foi crescendo até explodir no encontro realizado na tarde de quarta-feira, na Fundação João Mangabeira, quando Marina anunciou que Walter Feldmann, porta-voz da Rede, seria promovido à coordenação-geral. "Você fica onde o PSB quiser que você esteja", disse Marina a Siqueira, provocando a ruptura. Ontem à noite, o PSB divulgou nota informando que Luiza Erundina assumirá a coordenação-geral da campanha. Feldmann ficará como adjunto.



Flat devolvido

Integrantes do PSB defendem que a ala pernambucana da legenda deve atuar nesse momento para evitar uma nova debandada. Emissários de Renata Campos e Ana Arraes seriam enviados ontem para Brasília para tentar demover Siqueira da saída. Desistiram ao descobrir que o ex-coordenador-geral da campanha voara para São Paulo com o presidente do PSB, Roberto Amaral. Marina estava na capital paulista desde o início da tarde de ontem, gravando para propaganda eleitoral.

A viagem não tem um tom de reconciliação, contudo. Siqueira foi a São Paulo arrumar as coisas e fechar o flat que alugara para fazer a campanha. Ao lado de outros correligionários, ele tem a certeza de que Marina, a quem tratou ontem de "hospedeira", abandonará o PSB assim que a Rede for criada. As suspeitas se reforçaram durante encontro dela ontem com presidentes dos partidos aliados. Marina lembrou que é contra a reeleição e anunciou que, caso seja eleita para o Palácio do Planalto, cumprirá apenas quatro anos de mandato. "E eu espero que, em 2018, o PSB eleja um nome do partido para presidir o Brasil", disse ela.

A titular da chapa tentou minimizar ontem os atritos. "É lógico que estamos diante de uma situação que tem um mal-entendido e que o próprio PSB deve esclarecer", esquivou-se.

Time escalado

Confira as mudanças já feitas pela Rede e as desistências de socialistas na campanha ao Palácio do Planalto

Coordenação-geral de campanha

» Rede: Walter Feldmann

» PSB: Luiza Erundina

Coordenação de Mobilização

» Rede: Pedro Ivo

» PSB: Milton Coelho deixou o cargo

Comitê financeiro

» Rede: Bazileu Margarido

» PSB: Henrique Costa (pode deixar o cargo)

Comitê de plano de governo*

» Rede: Neca Setúbal

» PSB: Maurício Rands

* O único que não sofreu alterações

ANÁLISE DA NOTÍCIA

Tiro, porrada, bomba e memória

» Leonardo Cavalcanti

Mais do que um homem de partido - daqueles chamados de orgânicos -, Carlos Siqueira é a memória de toda a campanha de Eduardo Campos. Desde o momento em que o PSB entregou os cargos ao governo Dilma Rousseff, em outubro de 2013, até a morte do ex-governador de Pernambuco, na semana passada, Siqueira participou de todos os acordos.

Entenda-se como o homem de memória de uma campanha o cidadão ao qual os segredos de um partido são confiados. Amigo de Eduardo Campos e ex-assessor de Miguel Arraes na legenda, Siqueira é da confiança de Renata Campos, a viúva do ex-governador, que chama o dirigente do partido carinhosamente de Carlinhos. Com tais qualificações - pelo menos para o PSB pernambucano -, Siqueira complica Marina Silva ao abandonar a campanha. Sem ele, os novos assessores terão mais dificuldades de retomar as negociações e acordos suspensos com a morte de Campos.

A trama lembra, em outra escala, o que ocorreu com a morte de Tancredo Neves, em 21 de abril de 1985. Na época, especulou-se acerca dos acordos políticos fechados pelo mineiro. Alianças, diga-se, que nunca poderiam ser concretizadas, pois ninguém poderia apresentar um único recibo das negociações para a equipe de José Sarney, o sucessor de Tancredo. No caso de Campos, os acertos firmados pelo ex-governador com aliados poderiam, caso necessário, ser confirmadas com Siqueira. Agora, não mais.

Por fim, para o bem ou para o mal, duas características de Campos o distanciavam de Marina Silva: a praticidade e a capacidade extrema de negociação. O episódio envolvendo a saída de Siqueira da campanha apenas reforça uma imagem antiga vinculada à ex-senadora: a da intransigência. A 44 dias do primeiro turno, era tudo que ela não precisava. Informações do Correio Braziliense

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